Ecomuseu de Belém e o Turismo Comunitário enquanto instrumentos pedagógicos para a educação e salvaguarda patrimonial | Belém Ecomuseum and Community Tourism as pedagogical instruments for Education and Heritage Safeguarding
DOI: 10.5281/zenodo.10644505 | PDF
This article refers to the Ecomuseum of Belém/2022 and community tourism as pedagogical instruments for education and heritage safeguarding, since it displays the heritage valued by a community that uses it as an instrument of collective expression and as a potential resource ready for be used by local development. The Ecomuseum of Belém is an initiative of the Municipal Secretary of Education and Culture-SEMEC, Directorate of Education-DIED, Nucleus of Art, Culture and Education-NACE and Communities in its areas of operation. It is located in the District of Icoaraci, Ilha de Mosqueiro, Ilha Grande, Ilha do Combú, Itacoãzinho/low Acará. Prioritizes the enhancement/preservation and recovery of natural and cultural heritage, self-sustainability and the improvement of individuals' lives, as well as the promotion and emancipation of communities. Its main challenge is to develop actions in urban, peri-urban and rural spaces in the capital of Pará, in the Amazon biome. Methodologically, it is based on the thematic segments: Culture and Education through Heritage (memory/cultural landscape), Community Ecotourism in the Continental and Insular Region of Belém, Environment and Citizenship. In this way, the Ecomuseum of Belém and community tourism as pedagogical instruments for education and heritage safeguarding transposes the debate on the concrete reality and the recognition of the heritage resources of society, since they can trigger a new cycle of appropriation and revitalization heritage, be it natural, cultural, material, or even intangible.
Keywords: Ecomuseum of Belém, Community tourism, Education.
A Relação entre Ecomuseu e Educação sob a Perspectiva Patrimonial
Não convém a este artigo adentrar à discussão sobre o conceito de Ecomuseu, pois se trata de um tema demasiadamente difundido em âmbito acadêmico e no que concerne às arenas de discussão que cercam a museologia enquanto campo profissional em suas diferentes vertentes. No entanto, é importante destacar, que os museus comunitários, Ecomuseus e afins, instituições/organizações à serviço das comunidades caminham em acordo com uma das acepções da Educação Museal “Atuar para uma formação crítica e integral dos indivíduos, sua emancipação e atuação consciente na sociedade com o fim de transformá-la. Seu foco não está em objetos ou acervos, mas na formação dos sujeitos em interação com os bens musealizados, com os profissionais dos museus, e a experiência da visita” (Caderno da Política Nacional de Educação Museal, 2018). Também, pode-se observar mais recentemente, o processo de evolução dos museus comunitários, Ecomuseus delineados e efetivados a partir das décadas de 1960/1970 com a nova definição de museu “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimentos” (Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus-ICOM, 2022).
A partir do exposto, é relevante mencionar que, entende-se a necessidade da contextualização, no entanto, é pertinente informar que, este estudo restringe-se mais especificamente a abordar de forma analítica a conexão entre ecomuseu e educação, sistematizando ideias e argumentos para subsidiar o desenvolvimento textual de forma clara e compreensível.
A relação entre um Ecomuseu e a educação é bastante representativa. Os Ecomuseus pertencem a um novo modelo de organização museal que tem a população como protagonista a partir do propósito fundamental de preservar, interpretar e promover a história, a cultura e meio ambiente de uma determinada região ou comunidade. Ele funciona como um centro difusor de aprendizagem e engajamento a partir do patrimônio natural e cultural. E a educação desempenha um papel essencial nesse contexto.
A conexão entre os Ecomuseus e a Educação pode ser concretizada de diferentes formas, seja através de exposições, produções artísticas, atividades interativas, programas educativos ou roteiros planejados e guiados com percurso que envolva a contemplação e interpretação do patrimônio, ou seja, os Ecomuseus fornecem oportunidades de aprendizado baseadas na experiência e que podem ser direcionadas tanto para a população do território de atuação, quanto para diferentes públicos, proporcionando um ambiente onde pode-se explorar e entender a relação entre o homem, o meio ambiente e a cultura enquanto produto social, bem como a importância da preservação e conservação dos recursos naturais e culturais para as gerações futuras.
Já existe um amplo e consolidado arcabouço teórico com diversos autores que abordam a relação entre os Ecomuseus e a educação, argumentando como essas instituições podem desempenhar um papel fundamental na promoção da educação ambiental, cultural e patrimonial. Alguns desses autores incluem o já conhecido Hugues de Varine-Bohan, um dos pioneiros no campo dos Ecomuseus, o qual defende a função participativa dos Ecomuseus, destacando seu potencial educativo para difundir a consciência ambiental e cultural.
Neste sentido, os Ecomuseus podem estabelecer parcerias com escolas e instituições educacionais, oferecendo atividades e programas específicos para estudantes, podendo incluir visitas de campo, vivências na natureza, aulas ao ar livre, oficinas temáticas diversas, projetos de pesquisa e muitas outras atividades educativas não formais que complementam o currículo escolar. Os Ecomuseus também podem oferecer treinamentos e capacitações para educadores e comunidades em diversos segmentos como o turismo comunitário e a agricultura familiar, fornecendo recursos, materiais didáticos e todo tipo de informação relacionada ao meio ambiente e ao patrimônio local.
Destarte, ao promover experiências educativas no território de um Ecomuseu, em contato com as comunidades e o meio natural e cultural, a aprendizagem se torna mais envolvente e significativa. Os estudantes têm a oportunidade de compreender o ambiente natural e cultural de forma prática, aprimorando habilidades de observação, análise, pensamento crítico e resolução de problemas. Além disso, a interação com os técnicos especialistas oferece um contato direto com o conhecimento especializado, estimulando o interesse pela história, ciência, cultura, patrimônio e natureza.
Dessa forma, a relação entre Ecomuseus e educação é imprescindível e reciprocamente benéfica, pois, os Ecomuseus se tornam instrumentos ativos para a concretização do processo educacional ao oferecer oportunidades de aprendizado prático e envolvente, e a educação emerge enquanto aspecto medular de apoio aos objetivos dos Ecomuseus na promoção da conscientização, valorização e proteção do patrimônio natural e cultural e no fomento ao desenvolvimento local sustentável. Essa relação é fundamental para a formação de cidadãos conscientes e engajados com a preservação e valorização do meio ambiente e da cultura local. Ou seja, os Ecomuseus estão claramente alinhados ao conceito Freiriano de educação, onde Paulo Freire aduzia que a educação deve ser concebida como prática da liberdade. Freire vislumbrava que a educação não poderia ser apenas uma mera transmissão passiva de conhecimento, mas um processo contínuo, eloquente e ativo de transformação social e libertação. Para ele, a educação pura envolve uma troca dialógica entre educadores e educandos, em que ambos são sujeitos críticos e ativos durante todo o processo de aprendizagem. Nessa abordagem, a educação é vista como um caminho para que os indivíduos compreendam e questionem as estruturas de poder e as injustiças sociais, visando promover a conscientização, a autonomia e a capacidade de agir de forma transformadora na sociedade (Freire, 1979).
O Ecomuseu de Belém
O museu, e mais particularmente o Ecomuseu de Belém, é um instrumento bem adaptado à concepção de seu território, à escuta e ao serviço da comunidade. O conhecimento do patrimônio e da população lhe permite representar um papel de mobilização e de organização de cada comunidade que constitui sua área de abrangência (Martins, 2016). A contribuição do museu tem se revelado significativa pelo trabalho desenvolvido em parceria com iniciativas públicas, especialmente a administração municipal, assim como a iniciativa privada, contemplando um programa de desenvolvimento humano sustentável.
A experiência comunitária desenvolvida no Território Ecomuseu de Belém (Distrito de Icoaraci, Ilha de Mosqueiro, Ilha Grande, Ilha do Combú, Itacoãzinho/baixo Acará) como segue:
Dentre as várias atribuições, desenvolvida nesse Museu Território, objetiva também apoiar a função educativa de iniciativas em museologia comunitária no sentido da práxis, como ação reflexão-ação, com aporte nas práticas e nos contextos vivenciados pelas próprias comunidades locais dos ecomuseus e museus comunitários.
Neste cenário é possível observar que, com relação a Paulo Freire “as noções de pedagogia da libertação (lidas por nós como processos pedagógicos que promovem e estimulam a produção de subjetividades e através delas libertam as forças vivas da comunidade) e pedagogia da autonomia (pela qual o homem toma a si a capacidade de escolhas e tomada de decisões), conforme foram apresentadas no livro O Tempo Social, de H. de Varine […] serão revisitadas e transpostas por nós para os processos museológicos como fundantes de uma museologia da libertação” (Priosti, 2013).
Destarte, a museologia comunitária, trata de um agir coletivo, fundamentado em propostas oriundas de articulações políticas e pedagógicas. Logo, com vistas a alcançar seus objetivos, o Ecomuseu de Belém apresenta neste artigo o delineamento de suas linhas de ação: Cultura e Educação pelo Patrimônio (memória/paisagem cultural); Meio Ambiente e Racionalidade ambiental/Cidadania e Ecoturismo Comunitário na Região Continental e Insular de Belém, sendo este último a base principal para o desenvolvimento deste trabalho que tem como aporte os instrumentos pedagógicos para a educação e salvaguarda patrimonial.
As linhas de ação apresentadas retratam a experiência das comunidades, seja no âmbito sociocultural, ambiental, político, educacional.., as quais funcionam de forma interativa e dialógica, compreendendo que o patrimônio na contemporaneidade exige do profissional dos museus e daqueles que trabalham a gestão da herança (natural e cultural) respeito às escolhas das populações, sobretudo os saberes construídos pelas coletividades na sua ciranda comunitária e, apoiando-se nas orientações de Paulo Freire, promover a discussão sobre as razões de tais escolhas... (ibidem). Dentre os diversos temas, vale ressaltar a paisagem cultural. De fato, o Brasil, no seu todo, é detentor de uma diversidade cultural complexa. Essa diversidade manifesta-se nos bens culturais que integram o patrimônio vivo da região amazônica, o qual reúne, através de seus atores, uma diversidade de expressões em um processo dinâmico de criação e recriação de saberes, como os contadores de histórias e lendas da ilha, e os detentores de manifestações culturais, denominados “mestres” de cultura (Martins e Campelo, 2016). E quanto ao meio ambiente, contempla as paisagens culturais, o protagonismo pela preservação e conservação dos territórios, do patrimônio natural como uma das principais temáticas para os ecomuseus e museus comunitários, integrando ainda os princípios de racionalidade ambiental em que a sociedade é concebida como uma categoria multiétnica que integra diversas organizações comunitárias e identidades culturais (Leff, 2001). A imagem a seguir enfatiza um recorte da paisagem ribeirinha/Território Ecomuseu de Belém:
O Ecomuseu de Belém e o Turismo Comunitário enquanto instrumentos pedagógicos ativos para a Educação Patrimonial
O Ecomuseu de Belém e o turismo comunitário estão intrinsecamente conectados, possuindo uma relação estreita, pois ambos têm como fundamento a preservação do patrimônio cultural e natural de uma determinada comunidade e a valorização da participação ativa e protagonismo dos moradores locais junto às atividades desenvolvidas em seu território, pois, tanto o Ecomuseu de Belém, quanto o turismo comunitário estão pautados nos preceitos e princípios da sustentabilidade econômica, social e ambiental com novos modelos de gestão envolvendo ativamente a comunidade.
O Ecomuseu de Belém é um museu comunitário que se dedica a preservar e interpretar o patrimônio cultural e ambiental da capital paraense. Ele busca envolver ativamente as comunidades dos territórios em que atua em todas as etapas do processo de desenvolvimento de suas ações, desde a identificação e proteção do patrimônio até a sua promoção e uso sustentável. Destarte, o Ecomuseu de Belém trabalha para fortalecer a identidade e o senso de pertencimento das comunidades, promovendo a conscientização e o respeito pelo patrimônio compartilhado. E o turismo comunitário, por sua vez, é um modelo de gestão e desenvolvimento da atividade turística que envolve a participação ativa da comunidade local no planejamento, organização e gestão das atividades e empreendimentos, e busca valorizar a cultura, os recursos naturais e as tradições e manifestações locais, proporcionando aos turistas e visitantes uma experiência verdadeira e genuína, de tal forma, o turismo comunitário é uma ferramenta que promove o desenvolvimento sustentável da comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos residentes e para a conservação do patrimônio cultural e ambiental (Huffner, 2018), tal como corrobora Coriolano “[...] o turismo comunitário é aquele em que as comunidades de forma associativa organizam arranjos produtivos locais, possuindo o controle efetivo das terras e das atividades econômicas associadas à exploração do turismo. Nele o turista é levado a interagir com o lugar e com as famílias residentes, seja de pescadores, ribeirinhos, pantaneiros ou de índios” (Coriolano, 2009, p. 282).
Dessa forma, o Ecomuseu de Belém possui no turismo comunitário similitudes práticas e o compartilhamento dos mesmos objetivos de preservar e promover a cultura, o patrimônio e a sustentabilidade nas comunidades em que são implementados, e juntos valorizam a participação e o empoderamento das comunidades, contribuindo para a microeconomia e a estruturação dos arranjos produtivos locais, por meio do turismo responsável e da valorização dos recursos culturais e naturais existentes.
Portanto, o Ecomuseu de Belém, o turismo comunitário e a educação são elementos interconectados, pois, Ecomuseu de Belém é uma instituição que transcende o conceito tradicional de museu, e nesse contexto, o turismo comunitário desempenha um papel complementar, permitindo que os visitantes conheçam e vivenciem a cultura local de forma autêntica.
Neste paradigma, a educação desempenha um papel fundamental, pois é por meio dela que se promove a conscientização, o pensamento crítico e a capacidade de ação transformadora tão defendida nos postulados de Paulo Freire. A educação no contexto do Ecomuseu de Belém e do turismo comunitário não se limita à uma simples transmissão de conhecimentos, mas busca o despertar nos indivíduos a consciência sobre a importância do patrimônio cultural e ambiental e seu papel na sua preservação e promoção, a partir de um processo de aprendizagem contínuo e prolongado, em que os moradores locais compartilham seus saberes e experiências com os visitantes, ao mesmo tempo em que se beneficiam do intercâmbio cultural e das novas perspectivas trazidas por eles.
Nesta perspectiva, fica claro, que tanto o Ecomuseu de Belém, quanto o turismo comunitário podem ser perfeitamente conceituados ou entendidos como instrumentos pedagógicos ativos de educação patrimonial, formando um elo sistêmico poderoso e complementar, onde o Ecomuseu é um articulador para a viabilização da organização social comunitária, da sensibilização para o patrimônio e para a capacitação, e o turismo comunitário é a ferramenta que executa esse processo.
Neste diapasão, a relação entre o Ecomuseu de Belém e o turismo comunitário enquanto agentes pedagógicos em prol da educação patrimonial vai além do aproveitamento do patrimônio local e seus atrativos, pois se trata do fortalecimento comunitário em defesa do território, da afirmação identitária e da sensibilização para a valorização e para a salvaguarda dos conhecimentos tradicionais, da história, da cultura, dos saberes e fazeres e do patrimônio natural, ou seja, tanto o Ecomuseu quanto o turismo comunitário são instrumentos de luta e resistência social a serviço das comunidades (Huffner, 2018).
De tal maneira, Xavier Roigé (2019), autor espanhol ressalta que o turismo comunitário pode ser um vetor da valorização e preservação do patrimônio cultural material e imaterial. Ao organizar as comunidades locais na gestão e interpretação do patrimônio, o turismo comunitário, assim como os Ecomuseus, estabelece uma conexão mais profunda e significativa com as tradições, histórias e valores culturais de um local. Roigé (2019) também defende a importância da educação patrimonial no contexto do turismo comunitário, sob o argumento de que a educação patrimonial deve ser integradora e participativa envolvendo as comunidades, incentivando a transmissão de conhecimentos tradicionais, habilidades e práticas culturais às novas gerações. Isso não apenas fortalece a identidade cultural das comunidades, mas também permite que os visitantes compreendam e respeitem a cultura local.
Por fim, conclui-se, que, quando combinados, os Ecomuseus e o Turismo Comunitário possibilitam uma oportunidade singular no que se refere à educação patrimonial, pois, os Ecomuseus, enquanto “museus comunitários” ou “museus território” proporcionam um ambiente ideal para a aprendizagem, onde os visitantes podem se envolver ativamente na descoberta e compreensão do patrimônio local, seja por meio de exposições, rodas de conversa, atividades práticas, tais como, oficinas de artesanato e programas educacionais, assim como roteiros turísticos e circuitos interativos de visitação, e essa abordagem metodológica permite que os visitantes tenham uma experiência única, autêntica e original, pois têm a oportunidade de interação direta com a comunidade local podendo absorver um pouco dos saberes e fazeres e de seus conhecimentos e práticas tradicionais.
Ou seja, da concepção dos Ecomuseus e do turismo comunitário enquanto instrumentos pedagógicos emergem diversos impactos positivos, como o respeito pela cultura local e o estabelecimento de interações e trocas autênticas e enriquecedoras entre turistas/visitantes e autóctones, onde os moradores locais têm a chance de compartilhar suas tradições, história, memória, cultura e saberes, valorizando sua própria identidade criando uma sinergia mutuamente benéfica, onde os visitantes se transformam em agentes ativos de aprendizagem receptores de conhecimento, enquanto a comunidade local é protagonista, fortalecida e reconhecida como guardiã do seu próprio patrimônio, portanto, dentro da perspectiva cultural do desenvolvimento humano endógeno, é significativamente relevante incentivar e promover a integração entre Ecomuseus e turismo comunitário como estratégia para a educação patrimonial, a exemplo do que é feito pelo Ecomuseu de Belém em sua proposta de criação e execução dos Circuitos Interativos nos territórios em que atua.
O Ecomuseu de Belém e os circuitos interativos: capacitação, educação e desenvolvimento local
A proposta de organização dos circuitos interativos nasce no Ecomuseu de Belém a partir do eixo turismo comunitário, o qual deve ser entendido não como um segmento da atividade turística, mas uma metodologia de desenvolvimento do turismo, onde a comunidade é a protagonista na condução da atividade e está pautado nos preceitos e princípios de sustentabilidade econômica, social e ambiental e com novos modelos de gestão da atividade. Na concepção de Maldonado (2009, 31), o turismo comunitário pode ser definido como
Toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. E a característica distinta do turismo comunitário é sua dimensão humana e cultural.
Neste sentido, o turismo comunitário é considerado por Swinglerhust (2002) como um tipo de turismo alternativo e sustentável, no entanto, existem diversas categorias de turismo sustentável ou alternativo, e o turismo comunitário se diferencia das demais por ter a comunidade como objeto central do desenvolvimento.
Para Cordioli (2001), ao situar a comunidade como sujeito principal do processo, altera-se a base do poder, possibilitando novas oportunidades de decisão fortalecendo as estruturas locais, aumentando também a confiança entre os diversos segmentos e atores envolvidos. A decisão acaba sendo geral e para o geral não apenas partindo de um indivíduo e voltando-se para uma pessoa.
De tal forma, em âmbito do Ecomuseu de Belém, o turismo comunitário traz como proposta os circuitos interativos patrimoniais implantados inicialmente no Distrito de Icoaraci e que tem por missão promover atividades relacionadas ao turismo sustentável de base comunitária nas áreas de abrangência do Ecomuseu de Belém envolvendo a educação não formal através de ações teóricas e práticas dos princípios turísticos vinculados à educação patrimonial e valorização da identidade, aplicados ao contexto das comunidades envolvidas, permitindo assim, a formação participativa em prol do desenvolvimento local aplicado à prática sustentável.
Destarte, trata-se de uma iniciativa que sugere inicialmente a visitação às comunidades de oleiros e mestres da cerâmica do Distrito de Icoaraci, bairro do Paracuri, Belém-PA, o qual é hoje reconhecido como celeiro patrimonial cultural considerando seus aspectos históricos, culturais e ambientais.
Assim, os circuitos têm como prioridade o envolvimento e fortalecimento comunitário, sua articulação a nível sistemático e estrutural de seu patrimônio, adequando-se ao acolhimento de visitantes em diferentes períodos do ano, resultando em um circuito interativo turístico, representado por um mapa ilustrativo das comunidades com a visualização geográfica pontuando os patrimônios materiais e imateriais existentes, os quais compõem a paisagem e cultura local, a serem visitados como forma de valorização e preservação em detrimento ao desenvolvimento sustentável endógeno.
Cumpre destacar que o turismo comunitário é eixo medular na construção do planejamento e ações do Ecomuseu de Belém, pois, serve como compilador de todo o trabalho pré-produzido nos demais eixos, sendo transversal no diálogo entre as propostas, potencializando a visibilidade e a comunicação com diferentes públicos possivelmente interessados.
Portanto, pensar o turismo comunitário no distrito de Icoaraci por meio dos circuitos interativos tendo inicialmente as comunidades de mestres ceramistas do Paracuri como protagonistas do projeto vai além do aproveitamento do patrimônio local e seus atrativos, pois se trata do fortalecimento comunitário em defesa do território, da afirmação identitária e da sensibilização para a valorização e para a salvaguarda dos conhecimentos tradicionais, da história, da cultura, dos saberes e fazeres e do patrimônio natural, ou seja, é um movimento de luta e resistência social à serviço da comunidade.
Neste sentido, os Ecomuseus, especialmente o Ecomuseu de Belém, enquanto agente territorial de desenvolvimento endógeno, investe em iniciativas de turismo comunitário como estratégia de fortalecimento das relações e atividades engendradas visando à promoção, preservação e valorização patrimonial nas comunidades detentoras de riqueza histórica e cultural, bem como, torna-se um movimento de contracultura ao turismo de massa globalizador, hegemônico e sazonal, contribuindo para o incremento dos arranjos produtivos locais no contexto da microeconomia, economia criativa e da produção associada ao turismo, aglutinando a educação patrimonial à geração de renda e oportunidades de novos negócios sustentáveis.
Considerações Finais
As ações desenvolvidas pelo Ecomuseu de Belém objetivam o fomento de atividades regionais, a metodologia considera o patrimônio das comunidades como uma matéria prima endógena, em que a função social se encontra na dimensão educativa, a principal expressão do desenvolvimento local. Neste contexto os resultados das ações desenvolvidas pelas comunidades já começam a mostrar que vêm provocando reflexões e mudanças de atitudes das pessoas, contribuindo para a mobilização popular da região, no sentido de reafirmar processos históricos e culturais, promovendo ainda o desenvolvimento de práticas sustentáveis. As ações atuam como processos organizacionais que capacitam as pessoas a trabalharem juntas, a adquirirem informações e a refletirem sobre o potencial de sua região para a implementação de projetos necessários à melhoria de vida das populações. As ações desenvolvidas pelo Ecomuseu de Belém estão fundamentadas nos segmentos temáticos cultura e educação pelo patrimônio (memória/paisagem cultural); ecoturismo comunitário na região continental e insular do Município de Belém; meio ambiente e cidadania, os quais adotam uma estrutura organizacional compartilhada. Finalmente, o Ecomuseu de Belém visa estimular a realização de ações de um museu como agente de desenvolvimento que possibilita a capacitação das pessoas para o trabalho coletivo, a sustentabilidade das comunidades com ênfase na memória, cultura, tecnologias e saberes populares. E mais, proporciona ao público interessado, um espaço de colaboração, de estudo e de práticas relacionadas ao tema gerador museologia comunitária/educação.
Portanto, Iniciativas como a do Ecomuseu de Belém se traduzem em novas perspectivas de desenvolvimento e organização comunitária, pois as atividades implementadas tais como o turismo não podem ser entendidas como uma panaceia para os problemas e dificuldades das comunidades, mas sim como fatores agregadores às atividades já implementadas, contribuindo à sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Neste contexto, Belém – capital do Estado do Pará – é um símbolo da urbanização que avança sobre a floresta, sua população está majoritariamente concentrada nas periferias do núcleo urbano, o que significa a presença de inúmeros problemas sociais e impactos negativos no que tange ao meio ambiente, à cultura e à economia. Neste cenário, os problemas ambientais/culturais perpassam a situação social de vulnerabilidade da população, e a percepção acerca do meio que os circundam a partir de uma série de outras variáveis que concomitantemente ao crescimento populacional e adensamento humano, constroem e reconstroem o espaço e a paisagem como produto das relações sociais, e o Ecomuseu de Belém tem um papel fundamental como facilitador do processo educativo e de compreensão e assimilação das possibilidades que envolvem seus projetos e ações, pois, a interdisciplinaridade dos seus eixos de atuação possibilita um aprofundamento técnico, teórico e prático por parte da comunidade acerca do seu patrimônio. Assim sendo, compartilhar o patrimônio, os saberes e fazeres, a cultura e as tradições, é compartilhar conhecimento, é aprender e compreender para a construção de uma cultura mais humana e socialmente justa, tendo como pilar de sustentação a museologia comunitária e o Ecomuseu de Belém enquanto museu representativo de um território dinâmico e em constante transformação.
Referências
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Os autores
João Gabriel Pinheiro Huffner: Bacharel em Turismo, Especialista em Ordenamento Territorial – UFPA, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente-Unama e Técnico em Nível Superior da Fundação Escola Bosque – FUNBOSQUE.
Maria Terezinha Resende Martins: Pós-doutora em Inventário e Gestão de Coleções em Ecomuseus-UFP-Porto/Portugal. Doutora em Gestão Integrada de Recursos Naturais. Uma das fundadoras do Ecomuseu de Belém, Município de Belém e Região Metropolitana, Prefeitura Municipal de Belém-PA. Presidente da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários-ABREMC, membro do Comitê Gestor do Sistema Brasileiro de Museus-SBM/IBRAM, e Conselho Internacional de Museus-ICOM.